J. A. S. – mãe aos 36 anos
Data do parto: 06/08/2021
Tempo de gestação: 40 semanas e 3 dias.
Parto normal, maternidade Santa Joana.
Quando descobri a gestação tínhamos sete anos de casados, bem vividos. Gostamos de passear, viajar, e trabalhamos muito, e por isso, sempre adiamos o plano de ter um filho, desejava mas “nunca era a hora”. Até que fiquei desempregada, e pensamos mais uma vez em adiar esse plano.
Consegui um emprego desejado em meio a pandemia e após seis meses, descobrimos que eu estava grávida. Meu marido ficou muito feliz.
Durante a gestação um misto de alegria com preocupação em relação a pandemia, fazia parte das emoções.
Por trabalhar em hospital, inicialmente fui afastada das minhas atividades para fazer serviços administrativos em outro setor e, aos seis meses, passei a ficar em casa pois devido a pandemia, foi decretado que toda gestante deveria trabalhar home office ou se afastar e como o meu trabalho não é possível seguir em home office, me afastaram até o parto, para então entrar com a licença maternidade.
Tive uma gestação muito tranquila, zero enjoo, dor de cabeça ou ânsia. Por trabalhar em hospital, recebi a vacina para a Covid logo no início e assim, tudo que era possível para minha saúde e da nossa filha eu seguia à risca.
Li muitos relatos de parto e acompanhava diversos obstetras que defendem o parto natural humanizado e com isso, passei a desejá-lo também. Contratei uma doula e fui orientada ao longo do pré-natal. Fazia caminhada diariamente, exercícios na bola de pilates e até mesmo fisioterapia pélvica com Epi-No (instrumento que promove efeito de alongamento do assoalho pélvico e da musculatura local com o objetivo de reduzir taxas de episiotomia e lacerações durante o parto vaginal). Assim chegamos ao final da gestação.
Estando com 40 semanas, com os sintomas que me traziam desconfortos, uma leve perda de líquido vista nos exames, despertares noturnos para fazer xixi, a azia (hahaha) e não aguentando mais esperar, pensamentos do tipo “passar do tempo de nascer” começaram a me preocupar, foi então que iniciamos os estímulos naturais como: acupuntura, chá da folha de uma determinada fruta e mais exercícios na bola e funcionou!!
Foi então que em 05/08/2021 às 03:40h levantei para fazer xixi e percebi que o papel higiênico ficou “rosinha” e eu estava com leves cólicas. Enviei mensagem para a doula, que me orientou a levantar e agachar algumas vezes sem calcinha e notar se saia algo, e sim, caia um líquido rosinha no chão, ela me disse que provavelmente a bolsa tinha rompido e que teríamos um período para meu corpo entrar em trabalho de parto, e orientou que eu fosse descansar (hahaha como se fosse possível)…
Neste dia meu marido não foi trabalhar, ficou em casa me acompanhando. Utilizei um aplicativo para acompanhar a evolução das minhas contrações, e as 11:30h saiu o tampão durante o banho.
Ás 13:00h a doula chegou na minha casa e foi maravilhoso receber as massagens na região lombar! Como aliviava as dores e assim, entre o sofá da sala com massagens, o chuveiro que ajudava muito na evolução e dilação, seguimos até às 15:00h em casa.
Cheguei ao hospital por volta das 17:00h/18:00h com 7 cm. Aguardamos liberar a sala de parto, onde teríamos acesso à banheira que me ajudaria a evoluir mais e ás 20h eu estava com os 10 cm de dilatação tão esperados, sem analgesia e sorrindo a cada contração. Lembro que ao chegar ao hospital, imediatamente me ofereciam analgesia e eu negava a todo tempo.
Porém, após às 20h eu já não aguentava mais ficar em pé, me disseram que seria 10 cm para dilatar e mais 10 cm para descer, a explicação mais didática era: “dilatou, porém, a bebê precisa descer mais dois andares para nascer”. E assim, com essa informação, minutos depois de negar, estava eu gritando pela bendita analgesia.
Recebi a analgesia e fui orientada a descansar. Segui as instruções pois estava muito cansada. Passados 50 minutos, perguntei quanto tempo mais a anestesia iria durar, e me disseram que em breve ela passaria e eu voltaria a sentir novamente algumas dores. Com medo das dores voltarem, decidi retornar à posição agachada na banqueta, para ver se agilizava e recebi ocitocina (o famoso sorinho do amor….uí) e seguimos aguardando a bebê descer, acompanhando os batimentos dela.
Era médica e enfermeira que toda hora apareciam e diziam: “faça força… essa posição não está boa… coloca ela deitada… coloca ela em pé… coloca ela de cócoras na cama… coloca na posição ginecológica…”, foi então, que com a ajuda da doula, percebi que todas essas posições não estavam me ajudando, retornei para a banqueta e de lá não saí. Me lembro de sentir a mão da médica posicionando a cabeça da bebê, para que ela pudesse descer da forma esperada.
Fiz muita força, teve repique de analgesia que aliviava uma parte da dor, mas era muita dor. No expulsivo, lembro que senti e ouvi dois estalos nas costelas, na parte superior do colo. A equipe que estava na sala também ouviu.
Passadas muitas horas nessa posição, às 03:11h da manhã de sexta-feira, do dia 06/08/2021 nasce minha menina, com 3,025kg e 45,5cm, cheia de saúde.
Assim que nasceu, veio direto para o meu colo, fez um belo xixi em mim, o pai cortou o cordão umbilical e seguiu fazendo a tão esperada golden hour, nesse momento fui para a cama de parto pois tive laceração grau 2 e tive de receber 2 pontos. Passado esse procedimento, ela ficou o tempo todo comigo, para estímulo da amamentação.
Durante os dois dias que estive internada, ela ficou o tempo todo comigo, a todo momento entrava uma enfermeira e dizia: “olha, precisa dar o peito, precisa estimular, amamentação livre demanda é bom para o bebê…” e assim, mãe de primeira viagem, não tirei um cochilo no hospital.
No domingo, Dia dos Pais, minha alta hospitalar era 12h e demorou devido ter de tirar o raio x para ter a confirmação que não havia fraturado a costela. Chegamos em casa às 18h. Voltei para casa, extremamente cansada do parto, com uma hemorroida que precisava ser tratada, com as costelas doendo muito. Não conseguia abrir os botões de um body da bebê, e o seio dolorido também, afinal ela não saía dele.
A bebê não parava de chorar e quando fui perceber, vi que ela tinha feito cocô. Acho que ela passou a tarde toda assim e eu não tinha me dado conta. CHOREI! Chorei, pois estava com dores, extremamente cansada, sem cabeça e com uma bebê para cuidar, do qual eu não tinha me atentado de trocá-la nas últimas horas. Foi então que passei a entender o quanto romantizei a maternidade, achava que tinha estudado muito durante a gestação, quando na verdade, eu não sabia de nada do que estava por vir.
Meu puerpério não foi fácil devido as dores que eu tinha no corpo. Recebi algumas visitas de familiares e ficava brava quando algum familiar que vinha visitar a bebê, me via chorando e dizia: “ahh isso é depressão pós-parto”.
Ninguém fazia ideia das dores que eu sentia, ao ficar longas horas amamentando e com uma hemorroida gigante incomodando. Após uns 15 dias, as dores foram passando, em meio as dificuldades de uma recém parida, ouvia frases do tipo: “mas você não queria parto normal? Mas você não sabia que era assim? Não reclama, pois em meio a tudo isso, ela está cheia de saúde”.
Muita coisa eu li, muita coisa eu fazia ideia, mas muita coisa os livros não contam e as pessoas também não.
Hoje, passados um ano de seu nascimento, ainda sofro os reflexos da falta de informação. Vejo o quanto é importante estudar sobre as vias parto, amamentação, as possíveis vias de alimentação e rotina de sono, para que tenhamos um puerpério e uma maternidade possível e não cheia de expectativas. Isso sim é humanização! E o mais importante, não querer dar conta de tudo, pois precisamos estar bem, física e emocionalmente para cuidar do bebê.
*a imagem utilizada para a capa deste relato de parto, é meramente ilustrativa.